quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O HOMO HYPOCRISIS

Fim de ano é uma época em que o espírito humano está insuflado de abnegação, amor, compaixão e outros tantos adjetivos elevados. Nesta época paira no consciente coletivo a esperança de que conseguiremos voltar a ser, mesmo que por alguns dias, os pretensos seres puros e livres de pecado – atributos perdidos após nossa queda moral em tempos já esquecidos.

Em momentos natalinos como estes, discorrer sobre nossa real natureza seria estranho e, para muitos, até inapropriado, mas a nossa realidade é muito mais prosaica do que as expressadas nos votos de “boas festas e feliz ano novo!”.

Egoísmo, avareza, inveja e ódio gratuito são o nosso lugar comum e a ocasional mudança de comportamento, por si só já é algo burlesco, como um chimpanzé vestindo terno. Não somos seres virtuosos; a maior parte da humanidade é má, mas esconde isto sob uma máscara de civilidade.

No início deste mês assisti uma reportagem no canal da National Geographic sobre as relações entre os cães selvagens das Savanas Africanas. Estes animais se agrupam em matilhas com territórios delimitados e quando estes grupos inadvertidamente entram em territórios de outros, os confrontos são inevitáveis. Nesta reportagem, passada na reserva do Serengeti, mais de dez cães cercaram um animal de uma matilha rival e começaram a mordê-lo e ataca-lo. Quando o invasor parecia subjugado, os cães surpreendentemente deixaram-no partir. O animal foi embora ferido, mas nada que umas lambidas não resolvessem, pois o objetivo dos rivais era apenas defender seu território de caça.

Na mesma semana assisti na TV aberta uma reportagem sobre o assassinato de um torcedor de futebol. Aproximadamente dez pessoas atacaram um torcedor de outro time e, mesmo após o rapaz jazer inconsciente no asfalto, cadeiradas e chutes foram desferidos contra sua cabeça. Fiquei pensando naqueles criminosos desejando feliz natal e feliz ano novo a seus parentes e amigos. Pensei nas máscaras de hipocrisia que emolduram suas faces e vi que estas faces se multiplicam aos bilhões.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Navalha Nacional

Agora há pouco escutei o Senador da República, José Sarney, tentar justificar a ausência de parlamentares no congresso nacional (nos últimos 2 meses houve apenas 6 sessões).

Argumentava o parlamentar, com um sorriso indisfarçável, que era justificada a debandada dos parlamentares, porquanto estavam estes em suas bases eleitorais.

Não conheço todos os atributos que a constituição confere aos parlamentares, mas posso afirmar que tratar de assuntos eleitorais em detrimento de matérias de interesse da população não figura entre estas prerrogativas.

Hoje o país gasta uma fortuna para cada cabeça de parlamentar em Brasília, enquanto os órfãos da democracia morrem de fome, definham nas filas dos hospitais, são abatidos por balas perdidas, morrem de ignorância.

Este ano a Revolução Francesa completou 221 anos e se Maximilien de Robespierre fosse vivo, em seus discursos tonitruantes, diria que estas cabeças valeriam mais num cesto do que sobre os corpos onde elas ora se assentam.

Robespierre e seu grupo instituíram a chamada Navalha Nacional, mais conhecida pelo nome de guilhotina, na qual os inimigos do povo e da revolução eram “afastados” da vida pública.

Hoje os tempos são outros e a guilhotina foi substituída por um método menos sangrento. A nossa Navalha Nacional é a Urna Eletrônica, mas me parece que a sua lâmina está cega e imagino que era justamente por isso que o Senador Sarney estava sorrindo quando concedeu a entrevista.

Wellington Rex

Salvador 20 de outubro de 2010.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Quem Sou

Quero inaugurar este blog com um poema meu falando quem sou e o que pretendo. Será isso possível em apenas uma postagem? Bem, vejamos...

Há pessoas que vivem a dura realidade da vigília, há aqueles que se aquartelam nas faldas do sono e existem os que freqüentam as regiões fronteiriças entre o sonho e o mundo acordado.
Eu sou habitante destas regiões. Transito entre o sono e a vigília, bebendo dos dois mananciais.
Acordado sou fato, adormecido sou mito - não me comprazo em ser nem um nem o outro,
quero a onisciência de estar meio desperto, ou meio adormecido, desta forma sou passado,
presente e futuro. Nas solitárias regiões limiares, colho os frutos amargos da compreensão de mim mesmo, mas cresço além das esferas de ambos os mundos, evoluo.
Embora não esteja lá nem cá, cada segundo é um novo despertar.